
turma agora vai!

HISTÓRIA DA TURMA
Na manhã de 08 de março de 1962, um grupo de jovens reuniu-se, pela primeira vez, no pátio do então QG da 3ª Zona Aérea, ao lado do Aeroporto Santos Dumont, cidade do Rio de Janeiro.
Aqueles cento e vinte oito jovens eram resultado de um processo seletivo, físico e intelectual no qual 3.500 candidatos disputaram o acesso à Escola Preparatória de Cadetes do Ar, em Barbacena, Minas Gerais. As idades variavam entre 14 e 19 anos e o pensamento era um só: A carreira havia começado.
Chegada em BQ!
Tensos, nervosos, descendo dos cinco ônibus da Útil, olhando a banda de música e aquela multidão de outros jovens, pouco mais velhos, que não tardariamos a conhecer de perto – os terríveis veteranos.
Os “Bichos” foram matriculados na EPCAR, componentes da 3ª Esquadrilha, noção inicial de um corpo uno e indivisível, pronto para alcançar um ideal comum de voar:
A Esquadrilha é um punhado de amigos, a vibrar, a vibrar de emoção…”
Lembranças daquele primeiro ano: o trote doloroso e interminável, o estudo dirigido (primeira experiência diferente), os apelidos, as gozações que só eram válidas quando a vítima “perdia a esportiva”, o “show de calouros” e as paródias que até hoje, com o mesmo espírito, cantam com prazer.
Segundo ano, meio veteranos, a gritaria contra o caldeireiro e os cortes estratégicos nos filmes semanais, os primeiros namoros sérios na cidade e as primeiras despedidas provocadas por amigos que optaram por outras atividades, desligando-se da EPCAR.
Primeiro grande “bizu”, euforia geral, no ano seguinte iriam para o Rio de Janeiro, para a Escola de Aeronáutica, Campo dos Afonsos – o velho e imortal “Ninho das Águias”.
Ano tenso, aquele de 1964, o terceiro ano seria em BQ, continuariam na EPCAR.
A esquadrilha foi fortalecida, os primeiros pára-quedistas, PQD, foram incorporados: quatro oriundos da turma de 1963, quinze concursados e, no segundo semestre, quatro transferidos do Colégio Militar do Rio de Janeiro.
Momento importante no país, dia 31 de março de 1964, todo o corpo de alunos reunido o dia inteiro no Pátio da Bandeira, rádios recolhidos, todos curiosos, de repente um único rádio de pilha, surgido ninguém sabe de onde e a notícia esclarecedora – começara a Revolução e havia mudado o governo.
Um grupo da Primeira Esquadrilha, terceiro ano, participou do “Desfile da Vitória” em Belo Horizonte, baile em clube luxuoso, deslumbramento. Esses fatos e mais as revistas de armários posteriores compõem a lembrança daquele dia.
Final de ano, exame médico para o vôo e, como em todos as turmas, vários reprovados e os conseqüentes desligamentos, muitas tristezas e o ínicio de perda de contato com alguns amigos.
Tempos maravilhosos aqueles três primeiros anos, todos “laranjeiras”, dividindo alegrias e tristezas, e apenas uma grande frustração: por falta de recursos na EPCAR não foi editada a “SENTA PUA” revista da turma de 1962.
Dois nomes destacaram-se neste período e devem ser citados: o então 2° TEN AV FERNANDO WANDERLEY LARA, o primeiro e único comandante da Esquadrilha, responsável por toda a formação e orientação dos alunos da EPCAR, da turma de 1962 e o aluno 62-058 JOSÉ ORLANDO BELLON, iniciando a sua carreira de eterno “ZERO UM””, estudioso, responsável, mas antes de tudo, um líder e grande companheiro.
Baile do Adeus”, despedida de BQ, começava uma nova fase e aqueles alunos foram promovidos a Cadetes.
Em 1965 começariam a voar.
Chegada ao Campo dos Afonsos!
Novamente a turma foi fortalecida, os últimos pára-quedistas: vinte e um concursados, do meio civil; vinte e quatro transferidos do Cólegio Militar; cinco bolivianos(MOLINA, TORRICO, BARRIENTOS, CHACON E CABRERA); e também matriculados vinte e um ex-cadetes, não aprovados no “check” para o vôo solo, de duas turmas anteriores, formando o denominado “Quadro-Extra” que participou intensamente do grupo, mas nunca abandonou suas ligações com as turmas de origem.
Durante todo o curso a turma recebeu um total de duzentos e vinte e dois componentes.
Naquele primeiro dia, “bequeanos” metidos a espertos agruparam-se no corpo da guarda para entrarem juntos na Escola da Aeronáutica, procurando evitar o trote. Surpresa! O trote já começava no primeiro momento: mala na cabeça, fila indiana e no “pulinho de galo” até os alojamentos.
Nova mudança no conceito de formação, a esquadrilha foi dividida por quatro alojamentos e juntamente com grupos de cadetes do 2° ano e alunos do 3° BQ(a turma de 1963) formariam quatro esquadrilhas.
Primeira reunião no cinema e o choque de outra mudança, mais grave e marcante, que mudaria os planos de muitos companheiros: o curso seria realizado em quatro anos e não mais em três; sendo os três primeiros correspondentes ao curso básico de engenharia e o último, destinado a especialização (Aviação e Intendência).
Lembranças do primeiro ano?
As provas mais difíceis, os V.I.’s, o trote quase insuportável que durou até a grande emoção da entrega dos espadins, as “domingueiras” no cassino, a primeira NAVAMAER onde a turma era a base dos cadetes, etc…
No esporte o quadro foi revertido e graças aos “paraquedistas” a turma era muito forte e destacavam-se os cadetes UBIRAJARA, ARAKEN, CHAGAS, RIBEIRO SANCHEZ, etc…
Segundo ano, novamente veteranos, desta vez por muito tempo.
Continuaram as despedidas de outros companheiros que mudavam a sua opção de carreira.
Graças ao denodado esforço de GALHARDO e mais o CERDEIRA, o MENDES, o ETRAUD e os incomparáveis desenhos do BATALHA e HOOG é editada a “SENTA PUA”, revista da turma de 1962.
Era o resgate da estória em BQ.
Fim de ano e o grande “bizu”: as normas poderiam mudar e o vôo seria no terceiro ano. Nessa época a turma já estava meio descrente.
Começa o terceiro ano e para manter a vibração eram realizados vôos, chamados de “vibratórios”, de duas horas, com oficiais do Corpo de Cadetes.
Já havíamos saltado de pára-quedas sob orientação do PARASAR e instrução na Brigada Pára-quedista. Até então, havia sido a parte mais emocionante do curso.
Desde o início, várias reuniões foram realizadas no cinema, conduzidas pelo TEN CEL AV JORGE JOSÉ DE CARVALHO, Comandante do Corpo de Cadetes da Aeronáutica; nelas os cadetes eram informados das reuniões no Estado-Maior da Aeronáutica e que prováveis mudanças curriculares estariam sendo estudadas.
Figura marcante na história da turma, o TEN CEL AV CARVALHO comandou os cadetes desde o segundo ano até a conclusão do Curso de Intendência em novembro de 1968. Paciente, educado , vibrador, líder, conseguiu conduzir o grupo através de todos os percalços provocados pelas mudanças.
Alguns oficiais aviadores do Corpo de Cadetes comentavam que a turma não era “bagunceira” e nem indisciplinada, mas tinha um jeito displicente, irreverente e gozador, provocativo de uma reação diferente quando se unia para definir posições.
Assim, com a repetição das reuniões e nada de concreto apresentado uma frase jocosa começou a surgir nas caminhadas em direção ao cinema: AGORA VAI!
De início dita por alguns poucos, foi crescendo e acabou com o grupo, dirigindo-se ao cinema, rindo e formando um esboço de coral: AGORA VAI! AGORA VAI!…
Finalmente o dia chegou, a grande notícia, o vôo iria começar.
Novos exames médicos realizados.
Os considerados aptos foram divididos em dois grupos, o primeiro partindo de imediato para Pirassununga para iniciar o CFOAV, retornando aos Afonsos após o vôo solo no T-21. Em seguida iria o segundo grupo.
Desde 1965, o 3° ano do CFOAV, era realizado no núcleo da atual Academia da Força Aérea.
Os primeiros vôos aconteceram em “Pira” e aqueles que não conseguiram solar retornaram aos Afonsos para o curso de Intendência.
No velho Campo dos Afonsos também existia atividade aérea, e numa das missões de instrução a turma perdeu o DALTON. Alguns companheiros prantearam a sua morte, no local do resgate.
Os Cadetes Aviadores não tiveram férias naquele ano porque a data de Aspirantado foi marcada para 31 de maio de 1968.
Nunca, nem antes nem depois, um turma de cadetes recebeu uma instrução de vôo tão maciça e intensa.
Não houve “chiação” porque os que estavam em “Pira” queriam mesmo era voar, ainda mais que esperaram tanto.
Mas, uma consequência foi sentida, o atraso do vôo em três anos fez com que a média de idade passasse de 22 anos para 23 anos. Esse fato mais a incerteza de aprovação em todas as fases do vôo provocaram a desistência de alguns.
Afinal poderiam atrasar mais ainda a sua declaração a Aspirante a Oficial. Mais uma vez o EMAER reuniu-se para evitar estes problemas com as turmas seguintes.
Os aviadores precisavam de uma “bolacha” e o HOOG, com seu humor crítico, desenhou algumas, sendo por votação escolhido o urubu guerreiro, agarrado a um míssil e gritando: “AGORA VAI!”.
Por último foi definido o CFOInt, começando em março de 1968 e concluído em 8 de novembro de 1968, com uma mudança, a divisão em três especialidades: Estatística, Suprimento e Subsistência.
Novamente não foi editada a Revista, “A ESQUADRILHA” da Turma de Cadetes de 1965.
Em 31 de maio de 1968 foram declarados 75 Aspirantes a Oficiais Aviadores, sendo três bolivianos e, em 8 de novembro, foram declarados 73 Aspirantes a Oficiais Intendentes, sendo dois bolivianos.
Na mesma época membros da “AGORA VAI!” formaram-se em outras áreas: Oficiais do Exército, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Advogados, Engenheiros, Economistas, Administradores, Dentistas etc. Outros, são empresários.
Algum tempo depois, por iniciativa do WANDERLEY, começaram as reuniões anuais dos membros da “AGORA VAI!”, sempre no segundo sábado de novembro, procurando manter aceso o espírito da ESQUADRILHA.